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O inverno astronômico, com o solstício, tem início no dia 21 de junho às 11h58 e acaba às 3h50 do dia 23 de setembro. É o começo da estação como a maioria das pessoas conhece. A ciência climatológica, entretanto, trabalha com outros termos inicial e final para as estações e, por isso, adota-se no Hemisfério Sul que o inverno climatológico ou meteorológico começa em 1º de junho e termina em 31 de agosto.

Invernos neste século com El Niño clássico no Pacífico tiveram uma tendência de chuva acima a muito acima da média no Rio Grande do Sul e temperatura acima da média na maior parte do Centro-Sul do Brasil | ELIANA ANTINOLFI/ARQUIVO

O trimestre climatológico de inverno (junho a agosto) neste ano se dará com a presença do fenômeno El Niño, que foi declarado na semana passada. Assim, a expectativa é que o trimestre termine com ONI (Oceanic Niño Index) acima de +0,5ºC, portanto em patamar de El Niño.

O Oceanic Niño Index (ONI) é o principal indicador da NOAA – a agência de clima dos Estados Unidos – para monitorar a parte oceânica do padrão climático sazonal chamado El Niño-Oscilação Sul, em outras palavras o El Niño e a La Niña.

A parte atmosférica é monitorada com o Índice de Oscilação Sul (SOI). O ONI, explica a NOAA, monitora as temperaturas médias da superfície do mar em três meses no Pacífico Centro-Leste entre 120°W-170°W, perto da Linha Internacional de Data, e se elas são mais quentes ou mais frio do que a média.

A NOAA considera que as condições do El Niño estão presentes no oceano quando o ONI naquela área, conhecida como região Niño 3.4, é +0,5ºC ou superior que a média. As condições oceânicas de La Niña existem quando o ONI é -0,5ºC ou inferior.

O padrão El Niño-Oscilação Sul é sazonal, não algo que muda a cada dia ou de semana para semana. Para calcular o ONI, cientistas do Centro de Previsão Climática da NOAA calculam a temperatura média da superfície do mar na região de Niño 3.4 para cada mês, usando medições oceânicas de uma variedade de fontes, incluindo flutuadores autônomos, bóias ancoradas e dados de navios.

A agência climática combina as observações numa única média mensal e, em seguida, calcula a média com os valores dos meses anteriores e seguintes. Essa média de três meses é comparada, então, a uma média de 30 anos. A diferença observada da temperatura média nessa região – seja mais quente ou mais fria – é o valor ONI para cada trimestre.

Chuva em anos de El Niño no inverno

Foram quatro invernos neste século em que o trimestre de inverno climático apresentou ONI com valores em patamar de El Niño: 2002 (+0,8ºC), 2004 (+0,5ºC), 2009 (+0,5ºC) e 2015 (+1,5ºC). O evento mais intenso foi de 2015 que veio a caracterizar um Super El Niño.

Os mapas a seguir, produzidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia, mostram as anomalias de precipitação observadas no Brasil durante o trimestre de inverno nos anos de 2002, 2004, 2009 e 2015.

A última vez que o trimestre de inverno (junho a agosto) teve anomalias de temperatura do mar em padrão de El Niño no Pacífico foi em 2015, quando começou o Super El Niño do biênio 2015-2016. O trimestre teve chuva acima da média em grande parte do Sul do Brasil.

No Rio Grande do Sul, a chuva foi excessiva com grandes episódios de enchentes a partir de julho. Em julho daquele ano, a inundação chegou a fechar a Avenida Assis Brasil, no acesso ao município de Cachoeirinha, fato muito raro de ocorrer.

Na penúltima vez, em 2009, a precipitação ficou acima da média em quase todo o Sul do Brasil, exceção de áreas do Centro para o Oeste e o Sul gaúcho, e também em muitas áreas do Centro-Oeste e do Sudeste, especialmente em São Paulo e Mato Grosso do Sul.

Em 2004, sob El Niño fraco, a estação teve chuva abaixo da média na maior parte do Centro-Sul do Brasil, exceto por pontos do Mato Grosso do Sul, o litoral de São Paulo e o Rio de Janeiro.

Já em 2002, o Rio Grande do Sul teve um inverno de chuva acima da média enquanto a maior parte do Centro-Sul do Brasil, exceto por poucas áreas de Santa Catarina e do Mato Grosso do Sul, anotou chuva abaixo da média.

Em Porto Alegre, em 2002, choveu 178,8 mm em junho, 186,6 mm em julho, 154,3 mm em agosto e 167,8 mm em setembro. Em 2004, os volumes foram 102,7 mm em junho, 141,8 mm em julho, 71,5 mm em agosto e 193,3 mm em setembro. Em 2009, acumulados de 57,1 mm em junho, 57,2 mm em julho, 264,5 mm em agosto e 293,7 mm em setembro. Em 2015, no Super El Niño, 170 mm em junho, 309,2 mm em julho, 108,9 mm em agosto e 184 mm em setembro.

Observando-se os número se constata que a chuva neste anos aumentou principalmente a partir de julho com os maiores excessos em julho (2002 e 2015) e no mês de setembro (2004 e 2009), que é o primeiro da primavera climática e o último do inverno astronômico.

E a temperatura?

Não há um sinal claro em todos os anos que tiverem trimestre com ONI de El Niño neste século, mas a maioria dos anos teve temperatura predominantemente acima da média no Centro-Sul do Brasil.

Os mapas a seguir, produzidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia, mostram as anomalias de temperatura observadas no Brasil durante o trimestre de inverno nos anos de 2002, 2004, 2009 e 2015.

Como se observa, dos quatro trimestres de ONI em patamar de El Niño, os de inverno mais quentes foram os de 2002 e 2015. A exceção fica por conta de 2004, que embora com um ONI positivo, teve anomalias de chuva e temperatura mais perto de La Niña.

O que, aliás, não traz espanto. Isso porque embora o Pacífico Central, onde é medido o ONI estivesse mais quente, o Pacífico Leste estava mais frio, ou seja, era um El Niño Modoki ou falso. Os efeitos acabaram sendo mais próximos de uma condição de Pacífico frio.

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